Porque é que estamos todos sempre à espera de escutar um "Amo-te"?
De onde nos surge esta necessidade extrema de afecto?
Não seremos nós seres auto-suficientes? Podemos cuidar de nós, manter-nos, sustentar-nos, vivermos... mas a necessidade palpitante de afirmação junto do semelhante insurge-se no nosso dia-a-dia. É o motor deste nosso veículo chamado corpo, onde a mente constitui as rodas que giram em busca de uma palmadinha nas costas, um busca de um sorriso, de um beijo, de uma carícia, de um afago que será sempre insuficiente. Sempre fugaz. Sempre momentâneo. Sempre instantâneo. Sempre efémero. Porque é que nunca chega? Porque somos irremediavelmente enleados nesta teia sem fim? Somos presas do nosso desejo, somos predadores nesta busca, nesta demanda do Santo Graal. Perdemo-nos em camas alheias, em carros perdidos no mato, em escadas auspiciosas de tesões prementes, em praias vazias... em tantos lugares que satisfazem a gula, mas descontrolam a avareza numa vingança sem fim, num pecado constante com o nosso próprio Eu. No fundo agimos contra nós. Ébrios de um alcoolismo de uma vida, castigamo-nos numa oratória que se prolonga por dezenas de anos...
Porque o prazer supremo, o sentir que estamos completos, o encarar a nossa felicidade, nunca é atingido. A verdade é que somos felizes quando não estamos tristes. Mas nesses intervalos de felicidade que tantas vezes enchem o nosso dia, fazemos questão de regressar ao passado para recordar uma qualquer situação que nos cria saudade, como se ali residisse a cereja no topo do bolo. Ou fazemos questão de imaginar o futuro, e ambicionar sempre algo que será melhor do que o agora. Mas afinal o agora chega! Porque não estamos tristes, porque acabámos de sorrir, porque nos sentimos bem! Mas não nos quedamos a saborear o agora, fugimos sim para o ontem ou o amanhã. O agora desaparece, e o momento de felicidade evapora-se... Precipitando-nos novamente na demanda ilusória de que nos falta algo.
Quando somos crianças instigam-nos a estudar para podermos trabalhar e ser gente. Quando nos tornamos adultos, não é a trabalhar que somos gente. É quando alguém nos sorri, nos cumprimenta, nos ouve, nos observa, que passamos a ser gente. Gente aos olhos dos outros. E não gente para nós. Até na nossa busca somos infelizes...
Onde está o Agora que nos faz sentir bem? Consegues prendê-LO?...